18.11.06

Os Palavroes Usados em Portugal (sensiveis, nao leiam)

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinha?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"?"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática!
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes? No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida. Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia?
Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo:"Huguinho, presta atenção, filho querido: nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD .
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:"Chega! Vai levar no olho do cu!"? Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e ?
a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar ? tu pensas ?Já me fodi!? Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade e
Foda-se!!!

6 comentários:

R.Veríssimo disse...

Olá Nita
Sou novo nestas andanças de Blogs e por acaso aqui vim parar. Mas já que aqui estou quero-te dizer que independentemente das palavras ditas palavrões por vezes são usadas sem o propósito de ofender e como bem dizes "É o povo a fazer a sua lingua". Reconheço que lendo este e outros posts, fiquei bastante agradado e com a sensação que independentemente dos temas, e este é bastante arrojado, te expressas muito bem mostrando um à vontade que confesso não o esperava na tua idade.Deverás continuar quem sabe uma escritora em formação.Acompanherei no futuro as tuas aventuras e desventuras.Já agora diz-me como inserir no Blog o icon"email" que vejo no teu blog.
Desculpa pedir-te mas sou principiante e gostaria de ir compondo o meu Blog. Obrigado e até à proxima

R.Veríssimo disse...

Por lapso não indiquei o e-mail:yur.avlis@gmail.com

Anónimo disse...

Só da tua cabeça é que podia sair isto..!
Ès um genio!
amo-te miuda :)

Anónimo disse...

Tche, muito bom o texto, esclarecedor para nos interessados nessa língua fascinante, abraços do sul do Brasil.

Anónimo disse...

Acho que todos os meninos/as que aqui escreveram deveriam juntar-se e publicar um livro sobre a função dos palavrões na sociedade moderna do século XXI, porque isso poderia substituir parcialmente as despesas públicas em psicólogos que os Estados Europeus gastam na manutenção da saúde(sem sucesso)da mente em stress dos jovens.

Kleber TheClever disse...

Isto foi retirado de uma peça teatral de comediantes brasileiros (Leandro Hassum e Marcius Melhem) e adaptado para o português falado em Portugal.

Ficou criativo, mas deverias ter dado o crédito aos humoristas.

https://www.youtube.com/watch?v=Yg3Dd6t30xw